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    Livro vai contar a história da Rua dos Biquinis. Lançamento nesta quarta.

    Em 2016, as “duas peças que mudaram o mundo” completam 70 anos. O biquíni foi uma invenção francesa e de lá para cá, no entanto, tornou-se um dos produtos brasileiros mais conhecidos internacionalmente. Cabo Frio sabe bem o que é isso. Em 1953, a costureira cabofriense Nilza Rodrigues Lisboa resolveu investir na confecção das peças criadas na França. Com roupas e biquínis emprestados pela atriz Tônia Carrero, frequentadora assídua do destino turístico, Dona Nilza copiou os moldes e fez da artista sua primeira cliente. Com uma máquina de manivela, sob a luz do lampião, ela iniciava uma das principais atividades econômicas de Cabo Frio. Começava ali a Rua dos Biquínis, a única no mundo a concentrar lojas que comercializam exclusivamente a moda praia. São quase 100 metros onde estão reunidas grifes de diversos portes e que só no ano passado fabricaram cinco milhões de peças.
    Para contar essa história, o Sebrae/RJ, em parceria com a Firjan, a Sedeis (Secretaria de Desenvolvimento Econômico Energia Indústria e Serviços) e o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), instituições que financiam um programa de gestão corporativa para o segmento, lançam, dia 11 de novembro, o livro “Biquini – duas peças que mudaram a rua e o mundo”, no Clube Costa Azul, às 20h. O trabalho, de autoria do jornalista Alexei Waichenberg, conta com prefácio de Lenny Niemeyer e traz não apenas uma deliciosa linha do tempo da história do biquíni como conta histórias motivadoras de 26 empresários da rua.
    “ Quando leio sobre a criação e a solidificação do Polo de Moda Praia em Cabo Frio, ainda que saboreie as crônicas que narram a vida dos empreendedores que tiveram de experimentar dias difíceis para alcançarem o sucesso, deparo-me com a minha própria história. Nos anos 80, passei por grandes dificuldades, mas, encarando-as como aprendizado e desafios da profissão, consegui superá-las. Tenho a certeza de que o êxito de um mercado está na associação de seus representantes”, diz Lenny.

    Formação da Rua

    A história mostra que Dona Nilza fez escola. Com a ajuda da família, sua produção foi crescendo e em pouco tempo contava com 32 costureiras e 22 máquinas. Além de autodidata, ela foi professora e incentivadora de muitas das costureiras, ajudando, inclusive, várias delas na abertura de seus próprios negócios. Em meados dos anos 80, alguns microempresários já haviam se instalado no local em lojas adaptadas: salas e quartos das famílias de pescadores que lhes alugavam para a abertura de estabelecimentos comerciais. A partir de então, novos empresários, não só de Cabo Frio mas também do Rio de Janeiro, Petrópolis, São Paulo e Minas Gerais, instalaram-se na rua e ampliaram a produção local além dos biquínis, introduzindo outros artigos da moda praia.
    Em 2007, iniciou-se então a formação do Arranjo Produtivo Local (APL) na Região dos Lagos, com a concentração em Cabo Frio. Segundo Cezar Vasquez, Diretor-Superintendente do Sebrae, o projeto atinge toda a cadeia produtiva e visa melhorar gestão, atendimento, produção e comércio para tornar o município uma referência internacional. Os frutos já estão aí. A Rua dos Biquínis, onde gravitam centenas de fábricas, hoje já é o segundo ponto turístico mais visitado de Cabo Frio (atrás apenas da Praia do Forte) e o maior empregador feminino de toda a região. Pesquisas locais mostram que 90% dos turistas que desembarcam de transatlânticos rumo ao Polo Moda Praia retornam com pelo menos uma sacola, o que aponta o segmento como uma das principais fontes de economia cabofriense. O próximo desafio é a exportação.

    Histórias de sucesso

    Como todas as histórias de empreendedorismo, o livro mostra que, no mundo dos biquínis, o sucesso também não chegou para ninguém antes do trabalho. De maneira bem-humorada, relata, em crônicas, os percalços de cada lojista, como o de Mere da Conceição, da Art Bonita, que montou uma confecção de saídas de praia e quebrou. Com o tempo, voltou ao mercado e hoje já está há dez anos na rua. A professora Milena Quintanilha, é outro exemplo: desempregada , vendeu um terreno para abrir a loja - meio artesanato, meia moda praia - e hoje, quatro anos depois, diz ter encontrado sua verdadeira vocação.     
    Ilma Almeida, da Dona do Sol, também teve início conturbado e acabou sendo estimulada por um calote. Depois de receber uma encomenda enorme, produzir em casa e não receber, decidiu abrir a loja para vender o estoque.  “Foi um lindo verão”, constatou. Há ainda o caso do marchand português, Armando Braga, que chegou a Cabo Frio de passeio e acabou fazendo sociedade com o primo em uma loja de biquínis. Hoje tem oito lojas e vê as estampas no biquíni como obras de arte.
    Como todo bom negócio, houve quem apostasse na percepção. Julie Anne, da Moda Grande, começou seu negócio, há 15 anos, quando percebeu que a filha queria ir à praia, mas não conseguia nenhum biquíni com tamanho que lhe vestisse adequadamente porque a menina era gordinha. Arregaçou as mangas e decidiu: “vamos mudar isso”. Vânia Ferreira e Jorge, donos da Ki-bumbum também vendem modelagens maiores. Tudo por que um dia uma cliente mais desinibida levantou a blusa e perguntou se havia alguma peça que vestisse o seu manequim mais avantajado.
    São histórias que não acabam. Cada uma com seus ingredientes que, em geral, combinam determinação, esforço, criatividade e muita paixão. Por ali não se fala só de modelagem, nem só de moda, mas de modelo de perseverança e empreendedorismo.

    Linha do tempo dos biquínis

    Há exatos 70 anos, no fim da Segunda Guerra Mundial, a juventude exigia liberdade de expressão e de comportamento. A invenção do biquíni é disputada por Louis Réard, que apresentou duas peças pequenas de roupa, classificando-as como “o menor maiô do mundo”, e pelo designer de moda, Jacques Heim, ambos franceses. O fato é que o biquíni, mais do que um inovador traje de banho, teve mesmo a intenção de subverter os padrões daquela época. A linha do tempo do biquíni comprova que o biquíni nunca ficou ultrapassado, ao contrário, vem se renovando e acumulando versões e conotações que se adaptam culturalmente à evolução dos hábitos e costumes da sociedade praiana.
    As novidades na modelagem e na padronagem de tecidos não param de ser inventadas, mas alguns campeões de bilheteria jamais perdem seu lugar no gosto popular. Ainda hoje encontra-se o “sunquíni”, peça mais composta, usada pelas mulheres de 40 a 65 anos, o “tomara que caia”, tendência que ganhou destaque no início do século XXI e que encanta as adolescentes. E ainda o já maduro “fio dental”, que agora evolui para o “superfio”, conserva o ar sensual da mulher e ainda serve para não deixar marcas no bronzeado perfeito. O “asa-delta” e o “piapes” – cintura alta – utilizado inicialmente nas décadas 50 e 60, nunca saíram das praias. O “engana mamãe”, que entrou na moda nos anos 70, na famosa geração hippie, também continua sendo procurado nas lojas. Os biquínis de lacinho agora são chamados de “color block”, porque contrastam cores fortes nas versões desencontradas da parte de cima e da parte de baixo. E assim, nessa verdadeira “democracia dos biquínis”, a lei que impera é a criatividade e o conforto. Aí vai um convite para conhecer década a década esse brotinho de 70.
    Nos anos 50, mesmo com o biquíni proibido em vários países, atrizes e pin-ups como Ava Gardner, Ursula Andrews, Sophia Loren, Gina Lollobrigida, Rachel Welch e Brigitte Bardot foram contra todos os preconceitos da época e aderiram ao biquíni, como instrumento de sedução em filmes e em fotos. Em 1956, Bardot imortalizou o traje no filme “E Deus Criou a Mulher”, ao usar um modelo xadrez vichy adornado com babadinhos. O estilo da década era duas peças, de tamanho grande e com as cavas da calça bem baixas. No Brasil, o biquíni começou a ser usado no final dos anos 50. Primeiro, pelas vedetes, como Carmem verônica e Norma Tamar, que juntavam multidões nas areias em frente ao Copacabana Palace, no Rio de Janeiro e, mais tarde, pela maioria decidida a aderir à sensualidade do mais brasileiro dos trajes. A partir daí, a história do biquíni se confunde com a das praias cariocas, verdadeiras passarelas de lançamentos da moda praia nacional.

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