Uma ação da Secretaria Municipal da Melhor Idade de Cabo Frio (Semei), em parceria com o Ministério Público, polícias civil e militar e Secretaria Municipal de Saúde resgatou, agora, a tarde, uma idosa de 77 anos, moradora do bairro Jardim Esperança, que segundo denúncia, vinha sofrendo maus tratos por parte dos dois filhos: um deles com problemas mentais. Identificada apenas como N., a mulher era vítima de abandono familiar: vivia num ambiente insalubre, sem nenhum tipo de higiene, e era alimentada apenas com achocolatados. Ela foi levada para o Hospital do Jardim Esperança, onde permanece internada.
A denúncia de maus tratos chegou à Secretaria na semana passada. Na quarta-feira a equipe de assistentes sociais visitou a casa e foi recebida com resistência, tanto pela idosa quanto pelos filhos.
- Mesmo assim, voltamos na quinta-feira, e de novo na sexta-feira, quando conseguimos ter um diálogo melhor com um dos filhos. O que vimos foi uma situação muito triste: uma casa sem nenhuma higiene, a idosa visivelmente desnutrida, precisando de cuidados médicos, deitada numa cama suja, com roupas de cama sujas. Informamos a situação ao Ministério Público, que nos deu uma ordem judicial nos autorizando a retirar a idosa de casa para que pudéssemos levá-la ao hospital. E hoje estamos cumprindo esta determinação – informou a secretária Cristiane Fernandes.
Durante a visita, a idosa relatou às assistentes sociais e psicólogas da Semei que não consegue mais engolir nenhum tipo de alimento.
- Esse tipo de situação é típica da falta de exercício da alimentação. Como ela é alimentada apenas com achocolatados, acabou perdendo a capacidade de engolir alimentos mais sólidos. Agora, com atendimento médico, é que a gente vai conseguir saber até que ponto essa capacidade de engolir está comprometida, e que outros problemas de saúde essa alimentação inadequada pode ter causado à saúde dela – explicou a assistente social, Maria da Conceição Balbi Reis.
Segundo a psicóloga Angélica Fernandes, embora os maus tratos fossem visíveis, “a idosa ainda está lúcida e pode decidir se quer ou não receber assistência”.
- Quando a gente fala de maus tratos, não falamos, necessariamente, da agressão física. A violência psicológica e o abandono familiar, como neste caso, também são formas graves de violência contra o idoso. No caso desta senhora, ela já vive um quadro que chamamos de autonegligência, que é quando a vítima não percebe mais a necessidade de intervenção médica. Mesmo assim, não podíamos ser omissos. Ela precisava ser medicada e a família se negava a fazer isso. Então procuramos o Ministério Público, que nos deu autorização para agir – informou Angélica.
A secretária Cristiane Fernandes lembrou que, a partir de agora, o caso de N. será acompanhado diretamente pela equipe da Semei.
- Um dos filhos será acionado pela Secretaria e será informado sobre suas obrigações no cuidado com a idosa. Havendo reincidência, o Ministério Público será informado para tomar as medidas legais cabíveis. Quanto ao outro filho, acabamos de entrar em contato com a equipe do Centro de Atenção Psicossocial (CAPs) para que eles façam o acompanhamento. Quanto à idosa, estaremos acompanhando sua internação, e depois sua reintegração ao lar ou a outro local.
No mínimo, 10 denúncias de maus tratos a idosos chegam, por dia, à equipe da Secretaria da Melhor Idade de Cabo Frio. Embora assustador, Cristiane acredita que esse número não revela um aumento nos casos, mas um crescimento no número de denúncias. “Em plena Semana do Enfrentamento à Violência contra a Pessoa Idosa, é muito bom a gente perceber que as pessoas estão tomando coragem para denunciar. Este caso, mesmo, é uma prova disso” – disse Cristiane, convocando a imprensa a participar da campanha.
- Precisamos que ela nos ajude divulgando todas as formas de denúncia. Na Semei elas podem ser feitas pessoalmente à nossa equipe, ou pelo telefone (22) 2645-1071. O Governo Federal também recebe denúncias através do Disque 100. E o próprio Ministério Público também faz este trabalho. É importante que as pessoas entendam que quem cala, compactua com a violência e, portanto, a omissão também é uma forma de agressão – explicou, lembrando que até quinta-feira continuam as atividades da Semana de Enfrentamento à Violência na sede do Cemi (Avenida Teixeira e Souza, nº 2228, no bairro São Cristóvão), e na sexta-feira, às 10 horas, tem caminha contra a violência, com saída da Praça Porto Rocha em direção à Prefeitura, no Centro da cidade.
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